Diário #5: um dos maiores dias da minha vida?
Após sofrer abandono paterno, foi com 18 anos que escolhi ser uma filha exemplar. Minha família que era a minha prioridade nunca foi muito tranquila, saudável e preocupada comigo. Entre inúmeros males ocasionados por pais negligentes, um dos mais dolorosos foi quando tive de abrir mão do que queria cursar para que a situação não ficasse mais disfuncional do que já era.
Hoje, tomada por uma vontade implacável, me inscrevi para estudar o que sempre desejei: psicologia. Apesar de ser frequente, é preocupante que todas as vezes que me escolho, me sinto insegura.
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Não me acho tão nova para fazer uma transição de carreira, ao mesmo tempo, caso eu tenha que viver mais 30 anos, é preferível que eu passe esse tempo fazendo algo que ressoe verdadeiramente comigo.
Quando penso que precisarei interagir com as pessoas, me sinto espalhada e tudo parece estar fora do lugar. É como se eu fosse o Senhor Batata com suas partes espalhadas em cada canto.
O mercado nos obriga a sermos influencers, empreendedores bem-sucedidos, sabichões infalíveis, donos de opiniões singulares, originais e extremamente categóricas, e de verdades extremamente subjetivas. Será que há espaço para o silêncio? Ou melhor, será que há espaço para alguém como eu? ((Será que não está sendo um pouco catastrófica?))
Ainda sim, é inegável: lá no fundo, sinto um pouquinho de esperança – mesmo eu sendo uma bagunça, irreverente demais ou certinha demais, mesmo eu não tendo ideia do desfecho dessa história, e acreditando que não sou digna de ser feliz ou de sentir prazer com a minha própria vida.
(((somos todos oxímoros, paradoxais, antíteses de nós mesmos e por que há tanta vergonha?)))
Preciso me dar essa chance e quantas chances forem necessárias. Em parte, ainda sou a criança que sonhava com o seu próprio final feliz e nunca teve a mínima chance. Ainda que eu não me sinta capaz, pelo bem dela, eu me escolho e escolho ser capaz.
(((E que eu possa me perdoar por não ter me esforçado mais, feito mais, tentado mais)))